Jesus, durante seu ministério, foi conhecido por ensinar de diversas maneiras, especialmente no formato de sermões e parábolas. Um de seus discursos mais conhecidos é comumente chamado de Sermão da Montanha, que pode ser encontrado nos capítulos 5 a 7 do evangelho de Mateus. Os enunciados contidos nesse sermão são cheios de significado e apresentam importantes princípios ensinados por Jesus. No entanto, o discurso utilizado nesse sermão é dotado de um certo teor figurado, o que às vezes pode nos causar estranheza quando lemos tais capítulos pela primeira vez. Nesse sentido, foram selecionados aqui alguns ensinamentos desse sermão para se analisar com maior profundidade. Este devocional, portanto, busca apresentar algumas reflexões sobre as bem-aventuranças (alguns dos ensinamentos presentes no capítulo 5 de Mateus), de forma a demonstrar como uma leitura atenta e análise mais aprofundada desse texto podem ter muito significado e impacto na nossa vida cristã.
O capítulo 5 tem início com as chamadas bem-aventuranças, que são ensinamentos de Jesus sobre como ser bem-aventurado, isto é, feliz (ou também, nesse contexto, abençoado). Essas bem-aventuranças constituem atitudes que agradam a Deus e que trazem bênção. Os versículos 3 a 11 apresentam a seguinte estrutura: na primeira parte, enuncia-se quem são os “bem-aventurados” (que possuem características distintas em cada um dos versículos); enquanto que, na segunda, traz-se a justificativa (ou a causa) de ser bem-aventurado por aquela característica específica. A relação entre a característica que torna alguém bem-aventurado e a sua respectiva causa, em uma análise literal do texto, parece ser de oposição; quase que um paradoxo. Isto torna-se claro na leitura do v. 4, por exemplo:
Somos, então, felizes quando choramos? Somos abençoados porque nosso choro é consolado? Realmente, mediante uma análise literal do texto, a ideia trazida pelo versículo pode não ser a mais fácil de entender (ou, até mesmo, a ideia mais lógica). Mas é extamente por esse motivo que as bem-aventuranças são tão significativas e únicas da maneira como são apresentadas e escritas na bíblia: Jesus inverte valores comuns da época ao dar honra aos pobres, aos humildes, aos perseguidos e àqueles que choram. A linguagem por meio da qual Jesus ensinava era precisa e ousada: ao mesmo tempo que instigava e motivava àqueles que recebiam a palavra, confrontava a hipocrisia dos fariseus da época e de quem questionava seus ensinamentos (e até a sua própria existência como o Messias).
Nesse contexto, podemos destacar alguns elementos sobre os versículos que nos apresentam as bem-aventuraças. O v. 3 assim enuncia:
Não basta apenas ser pobre de espírito. É necessário reconhecer tal pobreza, isto é, reconhecer suas próprias limitações e fraquezas e, principalmente, sua total dependência em relação a Deus. São a esses, os pobres de espírito (e não aos ricos), a quem o Reino dos Céus pertence. Portanto, a razão para que essas pessoas sejam bem-aventuradas está no fato de que o Reino dos Céus lhes pertence (sendo o reconhecimento da pobreza espiritual a característica central do bem-aventurado do v. 3).
O Reino dos Céus também pertence aos perseguidos, conforme nos ensina o v. 10:
Esses são perseguidos, especificamente, por causa da justiça e do amor a Jesus. Não é qualquer tipo de perseguição. É uma perseguiça moral, emocional, psicológica e, até mesmo, física simplesmente por ser seguidor de Jesus Cristo. Novamente, aqui vigora a linguagem precisa, confrontadora e quase paradoxal das bem-aventuranças. Isto é, o Reino dos Ceús aqui não será daqueles que, com facilidade, esquivam-se de professar sua fé ou se negam a sair de sua zona de conforto com medo de serem cancelados (usando do atual internetês); mas, sim, daqueles que sofrem (inclusive insultos e calúnias – v. 11) por amar Jesus e falar publicamente sobre sua palavra. Essas pessoas certamente terão grande recompensa nos Ceús (v. 12).
Esses versículos são apenas alguns exemplos de como Mateus 5 e as bem-aventuranças, ensinadas por Jesus no Sermão da Montanha, carregam tanto significado e podem ter profundo impacto na nossa caminhada com Deus. A linguagem é, sim, figurada; porém, podemos facilmente observar, como no exemplo dos versículos 3 e 10 acima, que Jesus quer que sejamos MENOS para que Ele possa ser MAIS em nossas vidas. Jesus veio questionar as estruturas políticas e religiosas da época ao demonstrar que felizes ou abençoados são, na verdade, os pobres e perseguidos, humilhados e que choram. Isso torna-se evidente quando destacamos a característica central de cada bem-aventurança: pobres de espírito (v. 3); os que choram (v. 4); humildes (v. 5); famintos e sedentos de justiça (v. 6); misericordiosos (v. 7); puros de coração (v. 8); pacificadores (v. 9); e perseguidos por causa da justiça (v. 10). Essas são virtudes que Jesus quer que tenhamos; devem estar gravadas em nosso coração. O que há de MENOR dentro de nós, é o que Ele vê de MAIOR; pois é, a partir daí, que Ele age na nossa fraqueza e incapacidade. Ele É o que nós NÃO SOMOS (ou não podemos ser). Reconhecer isso é central na nossa vida cristã, especialmente para compreendermos quem nós somos Nele. As bem-aventuranças em Mateus 5, nesse sentido, são essenciais para tal compreensão.
eu amo esse texto! incrível demais o jeito que Jesus ensinava os valores do reino, o que parece não fazer sentido é a chave pra nossa vida aqui. baita post ?